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15 junho 2006

ESCOLHA OU MOTIVO?

Casamos por uma escolha e nunca encontramos o motivo. Separamos por um motivo, pena que não seja por uma escolha.

Procuramos uma justificativa para desmontar a casa e deixar de brincar de médico. O ciúme logo se torna observação extremada das falhas e das imperfeições. Só lembramos do que nos desagrada na companhia e deixamos de perceber o que nos emociona.

Pisa-se na falta de respeito, já se anuncia aos amigos e próximos os dissabores do marido ou da mulher. A vítima é a última a descobrir.

A vontade de desabafar converte-se em disposição de destruir. Pedimos a aprovação de fora para tomar as decisões mais íntimas. Não queremos nos separar e assumir a responsabilidade pela decisão. Os amigos inflamam a parte suja. Evitamos escolher. Espera-se um sinal, um colapso, um escorregão do outro para dizer que não dá mais, para alardear que é o limite, como se a relação fosse terminar ali, mas ela terminou quando um dos dois desistiu de tentar de novo.

Não basta se separar, a tristeza começa nesse ponto: na ausência de limites. Parece que anos de convivência concedem o direito de magoar sem pesar as conseqüências. A amizade é utilizada para aniquilar a própria amizade. Em nome da verdade, pouco se cala, pouco se preserva.

Há o desejo de desmoralizar quem viveu com a gente, de constranger, de declarar mais do que é necessário, há o desejo de ferir e não soprar a ardência, de sugar as delicadezas e mentir que não existiram, de resumir as alegrias em breves distorções. Briga-se por aquilo que ele mais gosta (e nunca despertou seu interesse) unicamente para ele não ter. A intenção é sádica: privá-lo de seus prazeres, assombrá-lo com dificuldades e restrições. Maltratar mesmo, até o choro pedir trégua. Na separação, prende-se primeiro o criminoso para depois procurar o crime. Elimina-se a dúvida para conviver com a suspeita.

Cria-se um boicote. Avisa-se aos familiares de que ele não presta. Há o desejo infantil de ofender, indiciar e culpar. Se o brinquedo de existir não é meu não será de mais ninguém.

Por mais que se ame, não é possível pedir para tirar as roupas. Isso é merecimento.

Não custa nada preservar a nudez na despedida.

Fabricio Carpinejar

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