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18 julho 2009

Entrevista

Aceitou responder às nossas perguntas na condição que só uma mulher poderia entrevistá-lo. Porquê?

A insistência de manter contacto unicamente com mulheres constitui uma condição deste blog e do Clandestino que pretendo manter.

Mas teme ou tem alguma coisa a esconder?

Eu não temo nem escondo nada. Cheguei à blogosfera oriundo de outro mundo virtual trazendo comigo os procedimentos a que estava habituado na Internet. Uso um nickname da mesma forma que outros fazem questão de ostentar apelidos e graus académicos.

Mas que vantagem há nisso?

É precisamente por isso – nenhuma vantagem. Pretendo que me leiam por aquilo que escrevo, ao contrário de outros que cujos blogues são visitados por serem quem são e não por causa do que lá escrevem.

No entanto, muitos dos seus visitantes entram aqui sem ser pelo que escreve, mas sim, via Google, em busca de pornografia. Não é verdade?

Reconheço que sim, mas essa não é toda a verdade. Por exemplo, todos os dias também entram aqui pelo menos meia dúzia de pessoas após terem buscado a palavra "malandro ousado" no Google.

Dá-lhe gozo?

Muito. É uma espécie de tributo que todos os dias me é pago.

Ainda assim, considerando que muitos aparecem em busca de sexo, isso não faz dos Malandros Ousados um falso blog pornográfico?

De forma alguma. Hoje em dia entende-se por pornográfico a exibição de imagens de sexo explícito, nesse sentido os malandros ousados caem completamente fora do género. Por vezes é utilizada nos posts alguma linguagem obscena, mas duma forma perfeitamente igual àquela que qualquer um de nós utiliza no dia a dia com os amigos.
Quanto a ser um falso blog, isso nem por sombras. Falsos são os blogs que independentemente dos aspectos formais, possuem motivações e objectivos estranhos à blogosfera. Blogar não é só escrever, mais importante será o espírito com que se escreve e se mantém um blogue. Ter um blog é pertencer a uma comunidade blogueira, é situar-se num plano de igualdade com os outros blogueiros, sem arrogância nem pretensões em ditar regras. Além de que nenhum blog é uma ilha e, como tal, em rigor nenhum blog pode ser desprovido de sistema de comentários ou lista de links para outros blogs (blogrolling).

Então considera falsos, os blogs pornográficos campeões de audiências do blogómetro?

Eu gosto de pornografia, admito até que sou extremamente pornográfico, mas não a procuro em blogs. Portanto, tratando-se duma realidade que desconheço não me posso pronunciar se são verdadeiros ou falsos blogs pornográficos. Mas se há quem se queixe da existência desses blogs e os classifica, acredito que o faça com bom conhecimento e, portanto, seja visitante minimamente regular.

Mas não acha a pornografia um tema ilícito para um blog?

É um tema como qualquer outro, o mais importante são os fins. Isto significa que um blog com fotografias de sexo explícito pode ser muito mais inocente e até legítimo do que um blog com finalidades políticas dissimuladas. É um caso de assunção clara e sem truques ou dissimulações.


E qual é a finalidade do Clandestino?

O meu caso é simples – divertir-me e divertir quem me quiser ler.

O Clandestino é um homem feliz, não é?

De facto. Tenho uma família fantástica, um lar cheio de amor e carinho. É o principal. Há momentos duros, mas esses são assuntos da minha vida privada que por norma guardo para mim e não revelo no blog.

Seria ainda mais feliz se o Clube dos Malandros fosse super famoso?

Escrever um blog famoso ou recordista de visitantes não me acrescentaria felicidade de maior. Sou um gajo simples, contento-me com pouco.

Para alcançar a felicidade suprema basta-me comer uma boa coninha ou um cu da maneira mais natural que existe: ou seja, à canzana e usando a minha própria saliva. Mas isto sou eu, que não gosto de ler romances nem me acho intelectual.

Alguma vez sentiu-se tentado a usar o Clube dos Malandros para ofender alguém?

De certa forma já, porque mexeram com a minha família e é algo que, rigorosamente, não admito de ninguém... Nunca! Não faz muito o meu estilo, o que fiz... mas foi necessário... Prefiro gracejar do que ofender... Mas foi mais, ou menos como aquela frase: há males necessários.

Afinal qual é o seu verdadeiro nome?

Não direi.

Gosta quando inventam e/ou pensam que é o Carlos Serra?

Amo. Fico vaidoso. A sério, quase me venho. Só lamento não arriscarem outros nomes.

Que nomes gostaria que arriscassem?

Porque não o Mia Couto ou Eduardo White?

É algum deles?

Não vou responder, acho que a resposta é óbvia.

Qual deles gostaria de ser?

O Eduardo White, porque é um louco e sedutor.

Isso é uma surpresa. "Eu quero ser o Eduardo White" não é o título do seu livro?

Qual livro? Não escrevi livro nenhum.

Não escreveu?

Fui contactado por uns tipos, que não interessa o nome, e que lêem os Malandros para escrever um, mas desistiram.

E o livro ficou sem efeito?

Isto aconteceu há um ano atrás. Recebi um e-mail e, quando li publicações @#$%^&, a princípio até pensei, querem ver que foi a minha wife que comprou algum livro e agora tenho de pagar?
Depois insistiram e comecei a desconfiar que talvez fosse alguma partida da Vénus ou do Karllus a gozar comigo.
Finalmente acreditei. Claro, esclareci logo que o meu sonho não era propriamente escrever um livro.

Não era?

Não. Hoje, em Moçambique não há cão nem gato que não tenha já escrito um livro. E eu, não é que não goste de escrever, mas por modéstia nunca fui além dos blogs. Excepto uma vez que aproveitei para escrever num velho e pequeno caderno, o nome de todas minhas amigas coloridas...

Mas disse-lhes que não queria publicar o livro?

Sou um fraco, não resisti à tentação e obviamente aceitei publicar o livro. De repente até fiquei desejoso.

Por vaidade?

Exacto, por vaidade. Comecei a imaginar uma capa muito ousada: uma gaja de pernas abertas... Só que em vez duma gaja boa, seria eu próprio vestido num roupão digno do Hugh Hefner. Com a perna cabeluda dobrada e a fumar um charuto cubano, ao mesmo tempo que atendia o telefone. Um cenário do ca-ra-lho... ao meu estilo.


Os contactos com a editora foram só por mail?

Não. Conversámos também três ou quatro vezes por telefone, espaçadamente durante alguns meses.

Nunca pessoalmente?

Falou-se nisso vagamente, mas também não fiz pressão.

Chegou a apresentar alguma exigência especial?

Nenhuma. Mas se fosse hoje teria deixado claro que tinham de me dar uma sandes de galinha com maionese e duas cervejas Carlsberg em cada sessão de autógrafos.

Teria sido importante?

Importante!? Ainda hoje lamento não ter dado este conselho ao Azagaia aquando do lançamento do seu disco, no Mimos. As sessões de autógrafos dão muita fome.

Sobre o projecto, que lhe diziam?

Que seria um livro conveniente para ser publicado no Verão, bom para se ler nas férias. Que teria uma tiragem elevada. Com sorte, as televisões iam achar piada ao Clandestino e dar destaque ao livro. Havia potencial.

E de repente desistiram?

O Clube dos Malandros, pelo que me falaram, não seria um livro isolado e a sensação com que fiquei foi de que o projecto na sua globalidade de repente ficou parado. Não sei, talvez a situação actual da suposta Editora tenha deixado suspensos alguns trabalhos. Mas isto já sou eu a especular.

Porque nunca falou da hipótese do livro no Clube dos Malandros?

Porque me pediram segredo.


Não disse a ninguém?

Apenas à família e a alguns amigos.

Os seus amigos, aqueles de que fala nos seus posts, existem mesmo?

Sim, a grande maioria.

Por exemplo o Compta, Osmar, Edgar, Beto, Carlos, Zarino, Marco, Leopoldo, Zé, Rui, Lobão?

Não, estes são meus irmãos de sangue.

E os outros que igualmente entram na "História dos meus amigos", a Vanize e o Karllus também são reais?

Sim, são meus amigos pessoais...

E eles não levam a mal, por não serem também irmãos de sangue?

Espero que não. Também não estou propriamente a contar segredos íntimos da vida deles. Portanto ficaria surpreendido, mas sobretudo muito triste se algum se chateasse comigo. De qualquer forma, não creio que leiam esta entrevista.

A "História dos meus amigos" vai continuar a ser publicada?

Ainda não está escrita, mas espero continuar. Já tenho na cabeça o que vou escrever. E nem sequer é preciso muita imaginação, uma boa parte daquilo aconteceu mesmo. Dá-me imenso gozo escrever a história dos meus amigos, é quase um reviver.

O "Diário de um Malandro" também será publicado?

Não para já... Este projecto foi adiado mas continuo a escrever a historia do malandro que fui.


Afinal o Clandestino escreve para os outros ou para si próprio?

Para mim, trata-se duma necessidade pessoal.

Não lhe preocupam as audiências do Clube dos Malandros?

Preocupam, mas pouco. Não considero que um blog seja algo suficientemente importante para levar os tops de audiências a sério, seria imaturo da minha parte. De resto, nem sequer perco muito tempo com o blog quanto mais preocupar-me com o blogómetro. A minha vida é trabalhar.

Mas não fica orgulhoso quando verifica que tem imensos visitantes?

Claro que fico. Mas considero mais importantes os elogios desmesurados que uma quantidade cada vez maior de blogueiros me dispensa incansavelmente há vários anos. É sentir o apoio e o carinho de pessoas inteligentes que conseguem ver para lá da pele de leopardo e das cores garridas a piscar. Ainda agora recebi, dum importante e excelente blog, um prémio. Damn, vibro sempre quando me premeiam...

O que é isso de ver para lá da pele de leopardo?

O Clube dos Malandros é mais do que parece. Eu podia ser um desses tipos cinzentos que escrevem blogs a comentar as notícias dos jornais e da Televisão.
A blogosfera está carregada de gajos assim, que se consideram o supra sumo da inteligência, entretidos a criticar tudo e todos e a sugerir soluções para os males do mundo... Não que não dê tusa criticar os nossos programas, principalmente as gafes dos nossos apresentadores que se esticam muito e só dizem merdas e apresentam mal...
Ver para lá da pele do leopardo consiste em perceber que este não é, propositadamente, um desses blogues "inteligentes".

Sugere que o Clube dos Malandros é um blog estúpido?

Eu faço um blog estúpido e desse modo passo por inteligente, da mesma forma que outros tentam fazer blogues inteligentes e acabam a passar por estúpidos.

E tem conseguido passar por inteligente?

Eu tento justamente o contrário. O meu maior gozo é quando consigo enganar algum "inteligente" e passo por burro. Muitas vezes também me dá prazer quando deixo a dúvida – isto será a sério ou a brincar?

O Clube dos Malandros é a sério ou a brincar?

Pois, essa é a questão não é? Quanto de Clandestino existe realmente em mim?
Quando um actor encarna uma personagem de onde vem ela? Quanto de Vadinho existe dentro do Edson Celular, em "Dona Flor e seus Dois Maridos", na grande obra de Jorge Amado? Quanto de Presidente do PIMO existe em Ya-Qub Sibindy?
Esse é um mistério que o leitor inteligente pode tentar descobrir.

Mas a ideia será fazer algum humor, não?

Poderemos considerar este blog uma tentativa de humor sexual, mas é lixado. As pessoas(os Gajos) invejam o Clube Malandros, julgam que fazer rir as gajas é meio caminho andado para ir com elas para a cama. Puro engano.
Imagine que dizes a uma gaja qualquer coisa do género, "o que tu queres sei eu" e ela desata a rir porque lhe acha piada.

E qual é o mal?

O mal é que tu preferes que ela sinta um arrepio pela espinha e fique a ferver de desejo, do que em vez disso a cabra desfazer-se em gargalhadas. Não se come uma gaja enquanto está a mijar-se a rir, excepto se tivermos esse fetiche. Portanto, acho horrível ser humorista. São quase todos uns rebarbados.

O Clandestino não é rebarbado?

Eu sou sexy e tenho um harém de mulheres espantosas. Por sorte elas não me acham graça nenhuma.

O blog serve para engatar gajas?

No caso de outros, não sei. Eu, nem pensar. Escrevo pelo puro e irreprimível prazer de dizer disparates.

Considera-se um mentiroso?

De modo nenhum. Não que não tenha sido... algumas vezes fui... Na vida real detesto mentir, só em último remédio. Aqui, exerço sobretudo a arte da contradição.

E o futuro, como vai ser?

Hoje em dia, a minha vida profissional deixa-me pouco tempo para brincar aos blogs. Apesar de já ter alguns anos, o Clube dos Malandros possui apenas 3500 posts. Considerando que isso resulta numa média de 8 ou 10 posts mensais acho incrível o número de visitas que consegue registar.

Mas há hipóteses de o Clube dos Malandros evoluir?

Duvido. Se tivesse que ser um blog de topo já teria sido. O sucesso dum blog não passa só pela qualidade da escrita. Faz falta muito trabalho de bastidores para a qual não tenho tempo.

Gostaria de ter essa disponibilidade?

A minha maior pena é não ter tempo para acompanhar outros blogs. Há pessoas que comentam os meus posts e eu sinto-me em dívida por não poder retribuir.
Criar uma teia de relações com outros blogueiros também é fundamental para o sucesso dum blog. Infelizmente não tenho essa possibilidade.

Poderemos esperar ver um Clandestino a brindar-nos com outro estilo de escrita?

Dificilmente. Eu a escrever sou muito limitado. Preciso de silêncio e muita calma. Leio e releio, torturo imenso o estilo. Gosto que as minhas frases sejam simples e curtas. Gosto quando sou fácil de ler. Demoro imenso tempo. Dizem que escrevo bem, o pior é o conteúdo. Não esperem um Clandestino diferente. Uma partida talvez.

Que género de partida?

Um dia destes dá-me na veneta e fundo um blog de gaja. Como esses que há por aí, que falam de sexo.

O Clube dos Malandros já fala de sexo, não?

Pois, mas é escrito por um gajo – não dou tusa. Tem que ser uma gaja ou, neste caso, eu a passar por uma.

Acha que teria sucesso?

Veríamos. Se tivesse, depois dos destaques e dos convites, mandava todos levar no cú. A começar pelos críticos.

E ainda diz que não é mentiroso. Isso não seria mentir?

Não. Isso seria puxar pelo meu lado feminino, colocar-me na pele duma gaja e mandar cá para fora meia dúzia de bacorada libidinosas disfarçadas de ensinamento sexual. Nunca se sabe se não o farei.

Clandestino, só mais uma questão. Quando é que inicia o "Diário de um Malandro"?

Não sei. Todos os dias me dá vontade de começar... Quem sabe hoje!

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