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30 outubro 2008

O CASAMENTO ENTRE O CANALHA E A SAFADA


Vamos imaginar o casamento entre os dois tipos sexuais mais carnívoros do mundo.
Só de ex as Igrejas estariam cheias, de amantes, pretendentes e interessados saindo pelos tubos do órgão.
A Safada com cinta-liga debaixo do vestido de noiva. Cinta-liga branca. O Canalha com uma única unha alta, afiada de violão, para descosturar a renda.
Ambos prometendo lua-de-mel perpétua.
Mas esqueçam este pormenor! Roteiro não funciona em filme porno. Muito menos legenda.
Canalha não casa com a Safada. É casamento de irmão, incestuoso. Proibido pelo inferno.
Um anularia o outro logo no primeiro dia. Um dos dois cederia o título. É mais certo que fosse o homem, que faria a comida e esperaria de roupa passada.
Canalha convertido é mais paternal do que sogro. Um zelador de edifício, com uma escada debaixo dos braços para trocar lâmpadas e palavras.

Safada é muito desconfiada para criar espera. Vingativa do que ainda não aconteceu. Canalha, quando casa com a Safada, supõe que está seguro e que agora jogará dominó com tampinhas de cerveja. Mas seguro de quê? Se, ao lado dele, tem alguém mais dissimulado do que joão-de-barro em poste de luz. Pagará - numa prestação - o sofrimento gerado em suas relações anteriores.

Uma mulher tem uma intuição maternal que falta ao homem. É uma intuição de três passos.
A mulher é a falsamente submissa. O homem é o falsamente dominador.
Para definir um restaurante, descobriremos o lado mais forte.
O homem pretende matar saudade do "Quilão", ponto de encontro de seus amigos ao meio-dia, pratos com elevador para o garfo (1ª andar: arroz, 2º: feijão, 3º: bife e 4º: ovo).

A mulher gostaria de algo mais reservado, "La Bohème", uma creperia de farta carta de vinho e decoração simpática, com objectos antigos.

Ele inventa de sondá-la:
- Vamos almoçar onde?
- Tu decides, meu bem, ela responde.
- Aié? Onde queres ir?
- Tu decides.
- Sem essa, qual é a tua vontade?
- Tu decides.

O marmanjo é obrigado a decidir. Mas não decide por aquilo que deseja. Fica envergonhado diante da implacável generosidade feminina. E o que define nem é o que a mulher pensou...
- Vamos ao japonês, o “Sushi-Kiyo”, que é o teu favorito.

.... acaba sendo bem melhor e mais caro. Oferece o dobro, na contra mão do que sonhava. Precisa reagir ao seu egoísmo. Engole a culpa enquanto ela blefa, ganha e não abre o jogo.

A mulher finge que aceita, o homem finge que dá as ordens. A autoridade sempre vem de quem aguenta mais tempo sem piscar, em silêncio. A autoridade é secularmente feminina.

O homem se precipita. Não suporta ser avaliado.

Como o sexo oral. Parece que quem manda é o beneficiado. Não, quem faz é que manda. Pode estar de joelhos, entregue, prostrado. Mas dirá a hora que quer ou não quer. Assim. Quem chupa fragiliza o parceiro. Coordena o gemido. Estipula a sequência. Acelera ou retarda o prazer.

O sexo oral fundou o sindicalismo no corpo. Derrubou as convicções patronais. O passivo é o activo. O suplício da alegria ultrapassa o da dor. Nada mais dolorido do que a tortura do gozo. Ao receber uma chupada, o homem ou a mulher confessa qualquer coisa, assume qualquer promessa para que a actividade continue.

Canalha depende do contrário para reinar. Safada depende do oposto para se regenerar.

O Canalha sofreria de ciúme preventivo. Paranoicamente obsceno. Anteciparia hipóteses de aproximações de terceiros. Até o espelho seria um amante escondido. Até sua imagem no espelho.

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