Vais envelhecer para teus colegas do Ensino Fundamental. Vais envelhecer para tuas amigas, lá da tuga. Vais envelhecer para teus vizinhos, que apreciam-te das varandas. Vais envelhecer para teus amigos de infância, que somente conheces pelos apelidos. Vais envelhecer para teus animais de estimação, mortos e vivos, lembrados ou esquecidos. Vais envelhecer para o florista da esquina. Vais envelhecer para a menina da janela que espera a mãe voltar do almoço. Vais envelhecer para tuas filhas, que comentarão com piedade, entre elas, que tu já não és a mesma. Vais envelhecer para teus colegas, de trabalho, que ainda dirão que estás conservada. Vais envelhecer para as balconistas do mercado, do banco, das lojas, que não se incomodarão em verificar o saldo. Vais envelhecer mudando de roupa, usando o batom no espelho, alisando o quadril pelos bolsos de trás. Vais envelhecer a cada gripe mal curada, a cada choro engasgado. Vais envelhecer ao estenderes tuas toalhas e ao lavares as tuas calcinhas. Vais envelhecer ao aproximar incrivelmente os olhos dos livros. Vais envelhecer na tua melhor gargalhada. Vais envelhecer ao renovares o bilhete de identidade. Vais envelhecer ao cobrires as falhas das mesas com fotos. Vais envelhecer para teus irmãos que não vês todos dias. Vais envelhecer quando alguém abraçar-te na rua: “não acredito que és tu...”. Vais envelhecer na primeira reforma da casa, mais ainda ao mudares de casa. Vais envelhecer ao desistires da calça de cintura baixa e das mini-saias. Vais envelhecer para teu ginecologista. Vais envelhecer para os garçons, para os mendigos, para os vendedores de jornais, no semáforo. Vais envelhecer, por mais que teu rosto não se apresse no bom-dia ou tuas pernas cancelem o boa-noite. Vais envelhecer descendo as escadas. Vais envelhecer ao sair do cinema. Vais envelhecer quando não fores compreendida e continuarás a envelhecer ao seres compreendida. Vais envelhecer tomando banho de sol, de mar, de vento. Vais envelhecer ao perder a contagem dos números romanos. Vais envelhecer ao trocar as sardas pelas manchas. Vais envelhecer ao suspirar mais do que o chá. Vais envelhecer com sapatos usados uma única vez. Vais envelhecer com vales de números quebrados. Vais envelhecer ao não dar conta do serviço. Vais envelhecer pela cervical. Vais envelhecer ao escorregar os pés para o fundo do sofá. Vais envelhecer ao deixar cair o guardanapo de pano. Vais envelhecer ao escutares a música favorita da tua adolescência. Vais envelhecer ao tingir os cabelos brancos. Vais envelhecer ao sentires a urgência do casaco dentro da cama. Vais envelhecer como uma colcha envelhece em seus retalhos, como uma criança envelhece ao aprender a escrever.
Vais envelhecer para os outros. Todos os outros, mesmo!
Eu é que não saberei de nada disso envelhecendo contigo. Te gosto bué...
Adaptado de Fabrício Carpinejar
4 comentários:
yeah muito nice a dedicatória brada.. menina.. ñ largues este homem!!!!! eheheh (sim, nós os homens temos sempre de "dar power" ao outro)
peace out!
Uééé, amei esse texto, envelhecer quem não vai, vale mais porque queres envelhecer junto, why not??
Gramei bro..isso e k e ser homem,capaz de reconhecer os seus sentimentos e assumir a sua relacao...
Abraço.
Pajo
lindo!!!
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