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08 outubro 2007

Vadias...


As gajas cansaram, cansaram mesmo. Elas querem ser mais soltas, querem reagir melhor a toques grosseiros de homens apressados, querem ser como as amigas e dormir hoje com um, amanhã com outro. Elas querem desviar-se, porque algo lhes diz que não estão adequadas ao mundo em que vivem. Seus comportamentos talvez fossem louváveis em 1904; mas agora, depois de duas guerras mundiais e um sem-número de revoluções, elas são como um peixe fora d'água.

Sentem que se conseguissem ser diferentes, se suas pernas abrissem com menos hesitações, elas serão mais felizes. Talvez se passassem a usar, todas, lentes de contacto, quem sabe? Talvez se mudassem a cor do batom.

Assim como até hoje elas não conseguiram ver graça na vida que levam, aquela vida insossa regrada por preconceitos colocados na cabeça, pela mãe, desde cedo, também a vida com que sonham está começar errado. Porque para ser vadia elas não precisam de truques, nem magias para saberem o óbvio.

Para ser vadia ninguém precisa da ajuda dos espíritos, não precisam de banhos de ervas nem de batucadas, não precisam sequer dos talismãs. Para ser vadia, vadia de verdade, daquelas que as senhoras de Santana olham com nariz torcido, elas precisam fazer apenas uma coisa: entregar!

Portanto entreguem, meninas. Entregue muito. Entreguem o quanto quiserem: sentadas, deitadas, em pé, de cabeça virada. Mas entreguem com a mão na cabeça para que não percam o juízo.

Mas simplesmente entregar não caracteriza ninguém como vadia. No máximo ficam com fama de indistintas, o que se resolve quando se encontra um inocente que se case com vocês.

Para ser uma vadia, mesmo, vocês precisam apenas misturar prazer e negócios. Precisam de consciencializarem que seu capital de giro está entre as pernas.

Isso não quer dizer cobrar pelo que entregam, porque então vocês não seria vadias, vocês seriam umas ganda putas. Há uma diferença; talvez pequena, mas há.

Uma verdadeira vadia funciona em função de presentes. Não pagamentos, repito: mas presentes, vantagens, agrados. No entanto, diferente das prostitutas que batem estrada, ela não entrega para receber presentes; ela recebe presentes por entregar. Há uma troca, claro, mas enquanto prostituição é uma profissão, o ser vadia é só um modo de vida.

Portanto, lembre-se de Chico Buarque:

Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres

Que só dizem sim

Por uma coisa à toa

Uma noitada boa

Um cinema, um botequim...

Adaptado do Rafael Galvao

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