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15 junho 2007

As Adolescentes de Trinta


Numa época em que era comum se casarem aos 15 anos, as mulheres antigamente, aos trinta anos já eram mães e felizes da vida pois já tinham despachado tudo até aos trinta. Muitas delas habituadas a tomar conta da casa, esperar o marido com a comida pronta na mesa, roupa lavada e a criança a dormir.

E hoje, tudo é diferente e muitos não notam a crise por que passam tantas mulheres nos primeiros anos do século XXI. Com excepções, uma mulher que chega aos trinta anos solteira começa a sentir um desespero inexplicável, uma espécie de revival da histeria do final da era vitoriana diagnosticada por Freud. É como se sentissem incompletas, como se lhes faltasse algo. As contas que fazem de suas vidas precisa de um factor que nem sempre está lá.

Esse factor é um homem.

São adolescentes aos 30 anos. Não percebem, mas têm o mesmo jeito de olhar a vida que tinham aos dezassete aninhos, como se não houvesse passado tanta água sob a ponte. Sem querer ser cruel, é como se o facto de amadurecerem emocionalmente antes dos homens implicasse uma estagnação depois disso. Chegam primeiro à adolescência e demoram a sair dela, muitas vezes directo para a velhice. Algumas, sem perceber, continuam fazendo aos trinta as mesmas exigências em relação aos seus parceiros que faziam quando ainda estavam na escola e alimentavam paixões imortais pelos garotos mais populares. Mudam apenas detalhes; já não querem um atleta, e sim um sujeito capaz de dividir os encargos da vida com elas ou, mais comumente, alguém "emocionalmente estável" (infelizmente, em 30 anos de vida ainda não vi ninguém emocionalmente estável de verdade, apenas instáveis em repouso).

O resultado é apenas mais solidão. "Meu Deus, ela pensa que vai encontrar homem na night!", disse uma das adolescentes. Enquanto isso, no trabalho não há homens interessantes, e os poucos que há são casados; sempre são. Por um processo de exclusão, vão eliminando todas as possibilidades de encontrarem alguém. Não importa o desespero: elas continuam criando para si torres de Rapunzel absolutamente intransponíveis.

Elas não se parecem se sentir a vontade em seus papéis. Para boa parte delas, a obrigação de independência parece um fardo insuportável a ser carregado. Se os homens foram "denunciados" nas últimas décadas, com a obrigação de mostrarem sentimentos de forma feminina, as mulheres ainda tentam se acostumar a um mundo que deu uma certa igualdade a elas.

Alguém deveria dizer a essas moças umas coisas básicas, que elas deveriam saber.

Por exemplo, que todo o seu relacionamento com o sexo oposto é baseado em códigos que elas definem na adolescência. Muitos adolescentes do sexo masculino lidaram, anos infrutíferos até descobrirem esses códigos (sem contar, claro, os afortunados, como o clandestino, que os conhecem instintivamente). Mas depois que descobrem, o jogo acaba. Vira uma brincadeira, em que é necessário dizer apenas a coisa certa na hora certa. (Certo, estou simplificando e há muitas outras delicadas; mas estas são as linhas gerais, e são suficientes para um post em um blog). Daí tantas mulheres infelizes, que não compreendem ou aceitam o simples facto de existirem tempos e interesses diferentes entre duas pessoas.

De certa forma, as Adolescentes de Trinta criam seus cafajestes. Depois não sabem lidar com eles, porque ao criarem seu Frankenstein, achavam estar a criar o novo Adão. E esqueceram que, entre Eva e Adão, havia uma serpente oferecendo uma maçã.

Originalmente publicado Por Rafael Galvão

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