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11 janeiro 2007

Mas para onde fugiram?

(...)Há conas que riem e conas que falam; há conas malucas , histéricas e ocariniformes e há conas planturosas, sismográficas, que registam a subida e a descida da seiva; há conas canibais que se escancaram como as mandibulas da baleia e engolem a presa viva; também há conas masoquistas, que se fecham como a ostra e têm a casca dura e talvez uma ou duas pérolas no interior; há conas ditirâmbicas, que dançam só com a aproximação do pénis e se encharcam todas de êxtase; há conas tipo porco-espinho, que estendem os espinhos e acenam com bandeirinhas na época do Natal; há conas telegráficas que executam o código morse e deixam a mente cheia de pontos e traços; há conas politicas, que estão saturadas de ideologia e até negam a menopausa; há conas vegetativas, que não reagem a não ser que as arranquemos pela raiz; há conas religiosas que cheiram como Adventistas do Sétimo Dia e estão cheias de contas, vermes, cascas de marisco,caganitas de ovelha e, de vez em quando, migalhas de pão duro; há conas mamiferas, que são forradas de pele de lontra e hibernam durante o longo inverno; há conas de cruzeiro, equipadas como iates e boas para solitários e epilépticos; há conas glaciais, nas quais podemos lançar estrelas cadentes sem provocar uma centelha sequer; há conas multifárias, que desafiam a categorização e a descrição, em que tropeçamos uma vez na vida e que nos deixam cauterizados e marcados; há conas feitas de pura alegria, que não têm nome nem antecedentes e são as melhores de todas, mas para onde fugiram?

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO Autor: Henry Miller

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