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17 maio 2006

A mais antiga profissão (PUTARIA): A "herança maldita"

Deus tinha iluminado o primeiro homem e a primeira mulher com um inocente instinto físico, com o propósito de continuar a espécie, mas a luxúria o transformou em algo vergonhoso. Então, a esperança maior de redenção da humanidade consistia em rejeitar o coito, e assim, a culpa herdada de Adão e Eva. Somente através do celibato - recusa total de sexo - seria possível alcançar o estado de graça que existiu no Jardim do Éden. Os fracos que não o conseguissem deveriam lutar para praticar o sexo sem paixão, ao produzirem a geração seguinte de cristãos. Sexo e luxúria eram essenciais à doutrina do pecado original, e todo ato sexual praticado pela humanidade, subseqüente à Queda, era necessariamente mau, assim como toda criança nascia em pecado.

Um mito traduz as regras de conduta de um grupo social ou religioso. Não tem autor, e seu caráter mais profundo é o poder que exerce sobre nós, geralmente à nossa revelia, no nosso inconsciente. "O mito de Adão e Eva modelou e aterrorizou a vida sexual e moral das gerações seguintes de homens e mulheres tementes a Deus e ainda hoje controla a vida de milhões de cristãos. Essa imagem coletiva poderosa responde pelo sentimento de culpa e vergonha que estão profundamente entranhadas nas pessoas e contribuem para o conflito sexual de nossa sociedade pós-cristianismo".

Tertuliano, que costuma ser chamado de "um dos pais da igreja cristã", novamente acusa as mulheres: "E você não sabe o que é uma Eva? A sentença de Deus sobre esse seu sexo subsiste até essa era; a culpa também deve subsistir. Você é o caminho da entrada do diabo... o primeiro desertor da lei divina; você foi quem persuadiu aquele a quem o diabo não foi suficientemente valente para atacar. Você destruiu com tanta facilidade a imagem de Deus, o homem. Por causa de seu demérito até mesmo o Filho de Deus teve de morrer".

E as mulheres tentaram se defender das acusações sofridas por quase dois mil anos. Em alguns cartazes das manifestações feministas da década de 60, estava escrito: "EVA FOI FALSAMENTE INCRIMINADA".

Livro consultado neste texto: A cama na varanda, Regina Navarro Lins, Editora Rocco, 1997.

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