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22 abril 2006

Monogamia

Promiscuidade da fêmea faz macho produzir sêmen ultragrudento para “bloquear” espermatozóides dos rivais

Quanto mais promíscua a fêmea, mais criativo se torna o macho no aprimoramento de estratégias para evitar que ela seja fecundada pelos concorrentes. Mudanças de comportamento que permitem ao varão triunfar sobre os rivais e perpetuar sua linhagem já haviam sido documentadas no reino animal. Pela primeira vez, porém, um estudo comprova que a infidelidade feminina induz no macho alterações mais definitivas. A traição manipula genes e leva ao surgimento de um autêntico 'cinto de castidade' biológico.

A
semenogelina, proteína que controla a viscosidade do esperma, foi a base do trabalho do cientista Bruce Lahn, da Universidade de Chicago, publicado na revista Nature Genetics. Ele comparou o gene que determina maior ou menor produção dessa proteína em primatas. O resultado mais surpreendente apareceu entre os chimpanzés. As fêmeas da espécie são conhecidas por copular livremente com vários parceiros. Por conta disso, os machos desenvolveram uma alteração genética que torna o sêmen ultragrudento, como uma espécie de cola-tudo. Depois da ejaculação, ele veda o útero como um tampão sólido e bem ajustado, impedindo que os espermatozóides dos rivais penetrem - e evitando que os seus escorram para fora. É uma trapaça biológica na corrida pela fecundação.

Estudos anteriores já revelavam que a
promiscuidade feminina altera a fisiologia do macho: ele chega a desenvolver testículos maiores para produzir mais esperma. 'Nosso grupo é o primeiro a identificar um gene cuja evolução é ditada pela competição sexual', explicou Lahn. 'Assim como ocorre no mercado, a disputa entre competidores leva à criação de algo mais eficiente, ao passo que o monopólio não estimula melhorias.' Além de estudar animais, Lahn deteve-se sobre os humanos. A análise genética coincide com o que se sabe sobre o comportamento sexual da maioria das mulheres. Elas estão longe de ser promíscuas como as fêmeas dos chimpanzés, mas também não são exatamente monogâmicas como as dos lêmures e dos saguis, que cultivam a fidelidade porque dependem do parceiro até para carregar os filhotes.

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