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06 abril 2006

Desde quando o homem não é rosa e a mulher não é azul?


O homem tem dificuldades de se relacionar mais do que dificuldades de relacionamento. Está sempre sendo julgado pela sua conduta. Se altera seu figurino e anda mais à vontade, já começa o zunido de que trocou de sexo. Aceita-se papéis misóginos sem perceber, aceita-se que há apenas dois banheiros e duas vidas diferentes para entrar e seguir.

As fronteiras começam antes do nascimento, na separação do enxoval azul do rosa. Desde quando o homem não é rosa e a mulher não é azul?

O homem é ensinado a ser homem se opondo à mulher. Tudo o que é de mulher não é do homem. Tudo o que é do homem não é da mulher. Joga-se o menino contra as meninas, não são eles que não se dão bem, são os pais e próximos que os diferenciam de modo ostensivo. Os preconceitos são invisíveis e não menos duros. Há brincadeiras para cada um dos sexos na escola. Futebol é para meninos, bonecas para meninas. Não poderia brincar de casinha, que alguma professora já me dizia que meu lugar era no campinho. Levar carrinho de bebê, então, nem se fala (como se o homem não pudesse exercitar a paternidade logo cedo e fosse exclusividade da garota).

Não notamos, mas criamos homens e/ou mulheres destinados a odiar a mulher e/ou ao homem. Não para amar naturalmente a mulher/homem. Destinados a trapacear, a fingir, a mentir, a trair, a fugir das verdades quando elas pedem uma mudança. O depois é o antes. Foram criados para se esconder, para se separar, para evitar os laços mais estreitos e a familiaridade dos costumes. Formados para não se envolver. Recebem advertência vitalícia e implícita de que não é possível se aproximar muito dos gostos e predileções femininas, de que é preciso manter distância, sob a pena de colocar em risco sua masculinidade.

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