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11 abril 2006

Crónica dum Malandro

"Suas escapadelas tornaram-se, então, famosas;
dizia aos mais íntimos que livrar-se da corte
de certas mulheres era um desafio bem maior
que conquistá-las em outras circunstâncias;
resistir-lhes o assédio, no entanto,
proporcionava-lhe um estranho prazer..."

Ana Cecília Barbosa in "Sedução às avessas"


Por conta das vias tortas do destino, nem sempre as pessoas que mais nos ensinam são as que irão colher os frutos que o nosso aprendizado proporciona - o nosso próprio amadurecimento. Nossos pais, que nos preparam para a vida, são dessas pessoas.

As outras são as namoradas e/ou namorados. As minhas namoradas, que tornaram-se, com o tempo, apenas uma breve referência, foram muito importantes no meu amadurecimento, que, aliás, está ainda por se completar... O papel de coadjuvante que as pessoas exercem em nossas vidas, para que assumamos o nosso papel - o principal, deveria merecer um prêmio especial.

Um dia desses reparei que uma dessas mulheres, ensinou-me em três anos e alguns meses, o que eu não aprenderia em décadas. Embora, tenha aprendido depois de terminar o relacionamento... Eu diria que foi um aprendizado um tanto forçado, mas nem por isso menos eficiente. Aprendi com ela como conviver com as outras mulheres que não a nossa própria. O nossa aqui é mero recurso linguístico, pois sabe-se que não mais somos donos das mulheres...

Pois bem, raros são os homens que são educados em seus sentimentos por seus pais. Sabe-se que meninos e meninas são educados de forma quase que oposta quanto aos sentimentos e à sexualidade.

As meninas aprendem que amor e sexo devem ser plenamente conjugados, pois não devem se dissociar.

Os meninos, ao contrário, são incitados a fazer uso do sexo, como algo distinto dos sentimentos. A esfera das experiências sexuais, para eles, está separada das experiências afetivas, emocionais. Daí para a concepção da mulher como um objeto dos seus desejos é um passo. O relacionamento entre os dois sexos, durante a adolescência e após é, dessa forma, naturalmente conturbada. Aprender, tardiamente, a conjugar essas duas expressões da vida - sentimento e sexualidade - é sempre difícil.

E mais: as distorções em nossos relacionamentos - amoroso ou amigo - com as mulheres é quase uma constante. Imagina-se que o casamento é o porto seguro dos aflitos dessa natureza. Os homens dissolutos (que dissociam, dividem-se, desintegram-se) encontrariam aí o seu repouso, a sua paz. Não é tão simples assim. O que está cá dentro, permanece, latente. O encanto dos primeiros meses e anos de convivência conjugal pode ser apenas uma trégua para as lutas que deverão ser travadas, posteriormente. Por isso, ao ouvir as experiências de um amigo mais velho sobre o tema, anotei-lhe uma frase dita: "As outras tantas mulheres com quem venhamos a conviver devem ser sempre tratadas a pão e água". Disse sobre o perigo a que estão vulneráveis todos os homens que aventuram-se a manter laços muito estreitos de convivência com outras mulheres, mesmo as chamadas amigas. O distanciamento, as barreiras, os limites, são fundamentais para se preservar a própria pele. Ainda mais que as mulheres sem qualquer compromisso com os sentimentos próprios ou alheios, têm uma especial inclinação à segurança que os homens casados podem oferecer para suas aventuras sexuais.

Não podemos ser, de forma alguma, ingênuos. Não poucos homens vêem seus lares reduzidos a escombros, por conta de uns encontros casuais. Não se procurando já se acha, imagine estando-se desatento. "Lembremos que só quem rói o osso, tem direito ao filé", eis outra frase sua que anotamos, excelente, aliás, para meditação.

Clandestino

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