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08 junho 2007

VIVER DE MENTIRAS OU VIVER NUMA MENTIRA?


Quando uma gaja sai com as amigas e vai se divertir: fica nas gargalhadas, papo, um copito ali e outro aqui, por aí em diante e tu, gajo, ligas pra ela, numa de saber onde ela está e com quem, até arranjas um pretexto, do género: "está tudo bem? Só queria saber se está tudo bem, beijo". Mas antes disso a gaja responde-te: "Amor, aqui está horrível, a cerveja é quente e queria beber um whisky mas também não há gelo, estou com dor de cabeça, só preciso encontrar um jeito de sair educadamente e vir ter contigo". E desliga, depois de te dizer: "beijos meu amor, não te preocupes".

Depois de desligar do lado dela, continuam as gargalhadas e a animação total, como se nada tivesse acontecido, ela dispara efusivamente e indiscretamente, a gaja fica incontrolável e excitada de tanta animação e teimando que a noite ainda é uma criança no seio dela. É o que digo sempre: as gajas todas têm dupla personalidade?
Mas atenção, as gajas que fazem isso têm uma explicação, do género: "Se eu conto para meu marido, namorado, amante que estou feliz e a divertir-me, ele vai pensar merdas e ficará fodido de inveja e ciumes".

Sou infelizmente igual. Maldição viril. Elas têm razão. É uma mentira - não diria saudável - terapêutica. Nós homens não aguentamos que as nossas gajas sejam felizes sem nós por perto (as gajas também, mas em menor grau). Marcamos passo no coração e exigimos exclusividade secreta e informal. Somos possessivos, mesmo que finjamos ser despreocupados. Na nossa imaginação, há demónios a envenenar-nos a mente. Não suportamos que elas tenham passado, muito menos suportamos que tenham futuro solitariamente.

De certo modo, isso afecta directamente a nossa independência. Nós raciocinamos de um modo distorcido e infeliz: se a nossa gaja descobrir que é mais alegre na rua, fará uma varredura na relação e perceberá que está perder tempo, encalhada em casa e no estado civil.

Não dormiremos ao constatarmos que a nossa gaja é mais plena ao voltar do que ao sair. Temos a noção que unicamente a alegria é capaz de separar-nos. A alegria separa mais do que a tristeza, porque a tristeza reúne e a alegria dispersa. Casais que atravessam uma crise financeira, que atravessam a morte de um familiar, que atravessam uma disputa na Justiça, que atravessam críticas têm tendência a fortalecer.

Mas nós homens morremos de medo da comparação, tememos que ela descubra novos gostos, novos olhares, outras esferas e gentilezas. Escolhemos a retranca para manter o resultado. Perdemos o jogo por excesso de cautela.

De natureza, os homens têm a síndrome passiva do corno. Todo homem sozinho dentro de si é corno, filho mimado de sua insegurança. É corneado pelos seus próprios pensamentos.

Quando o homem não confia em si, jamais confiará na sua mulher.

Talvez seja uma explicação para que os casais percam seus amigos de solteiro. Seus amigos de infância. Aceitam assinar um contrato de sessão de direitos autorais e desistem de conviver em nome do que julgam ser destino, mas é apenas acomodação paranóica.

O amor é uma ameaça, porque depende de um nível de desprendimento que se aproxima da fé e não pode escorregar na indiferença. O amor, no fundo é arenoso nas dúvidas, não aceita amadores.

Tenho dito, nesta vida cada mergulho é um flash e se for pra amar que seja a rir pra sair bem na foto!

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